quarta-feira, 13 de março de 2013

Conto popular: O Coelho e o Baobá


Essa história que eu vou contar para vocês aconteceu a muitos e muitos anos atrás perto de um baobá pra quem não sabe baobás são árvores africanas gigantes.
Certo dia um coelho estava irritado de tanto ouvir a sua esposa reclamar:

- Por que você não presta você não me ama, não pensa em mim, olhe essa casa é muito pequena precisamos de uma casa maior.

Ele coitadinho, ouvia tudo quieto, foi ouvindo, foi ouvindo, até que de repente se encheu de tanta falação e saiu correndo, correu, correu por entre o campo, para bem longe, após muito correr se deitou no gramado para curtir o silêncio, mas naquele dia o sol da África parecia ainda mais quente e seu lindo pelo branco começou a arder:
- Meu Deus eu preciso de sombra, estou queimando, queimando.
Olhou para todos os lados e não encontrou nada, mas avistou lá na frente um lindo baobá que lhe pareceu refrescante, não pensou duas vezes e saiu em disparada, correu, correu, até chegar à sombra que ele oferecia. Deitou de barriga para cima e ficou repousando:

- Ufa, ai que sombra mais gostosa.
O baobá como não era acostumado a receber elogios, pois passava grande parte do tempo sozinho. Balançou os seus galhos e suas folhas em gratidão, produzindo um vento bem gostoso.

-Hullllllll...
O coelho então falou:

- Nossa baobá que maravilha você consegue fazer, o seu vento é ótimo.

Ao ouvir o segundo elogio ele deixou cair um dos seus frutos, que continha dentro um delicioso néctar. O coelho olhou para o fruto, agarrou com as duas patas e começou a se deliciar com o mesmo.
- Nham, nham que delícia seu fruto baobá, é o fruto mais gostoso que eu já saboreei.

Nesse momento baobá foi tomado pela emoção, suas cascas começaram a se romper e seu tronco começou a se abrir, foi abrindo, abrindo ele mostrou o seu coração, e toda a riqueza que havia ali dentro, joias, colares e anéis preciosos. Foi difícil fazer isso, mas o coelho se mostrou tão terno, tão amigo que ele não resistiu.  O coelho quando viu tudo aquilo se sentiu muito honrado e falou:
- Nossa baobá, eu não sabia que dentro de ti havia riquezas, elas são para mim?

Ele balançou os seus galhos e uma leve brisa tocou o rosto do coelho:

- Muito obrigado, bela árvore, jamais vou te esquecer.

Pegou algumas joias, segurou as na mão e pensou:
- Com isso eu posso fugir para bem longe e ser feliz, mas espera e a minha coelha, eu sei que ela grita comigo, que ela só reclama, mas ela é tão linda, e eu a amo.  Já sei vou levar isso de presente para ela.

Neste momento ele seguiu em disparada rumo a sua toca, os animais o viam correndo, com aquelas joias e perguntavam:
- Nossa coelho, aonde você conseguiu isso?

Ele apenas respondia:
- Ganhei de um amigo, por uma gentileza que eu fiz.
E assim foi durante todo o caminho, por onde ele passava lhe perguntavam sobre o que estava carregando. Chegando a sua toca ele entregou as joias para sua esposa e disse:

-Olha só meu amor são para você.
Ela é claro, ficou encantada e mais que depressa, enfeitou-se toda com o brilho dos anéis e colares e saiu para se exibir as suas amigas. A primeira que ela encontrou foi à hiena, que tomada pela inveja, quis logo saber onde ela havia conseguido joias tão brilhantes. A coelha disse que não sabia, pois havia ganhado de seu marido. A hiena não perdeu tempo e foi falar com o coelho e ele lhe contou o que havia acontecido. No dia seguinte, exatamente ao meio-dia que é quando o sol fica mais forte, corria a hiena pelo campo, repetindo passo a passo o que o coelho fez, se jogou no chão, reclamou do sol e foi se rastejando até o baobá, chegando lá falou:

- Nossa baobá que sombra boa.

Ele então balançou os seus galhos em gratidão.
- Nossa que sede eu estou sentindo.

Baobá deixou cair um fruto, a hiena pegou com as duas patas, abriu, fez uma cara feia, fez de conta que comeu jogou fora e falou:
- Baobá me mostre o seu coração.

Como no dia anterior tinha acontecido o mesmo com o coelho, ele estava se sentindo confiante e mais generoso, lentamente foi abrindo o seu tronco, foi abrindo bem devagarinho, saboreando cada minuto da entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com as suas garras no tronco de baobá gritando:

- Abra logo esse coração, eu não aguento esperar, ande, eu quero esse tesouro para mim, eu quero tudo entendeu.
O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma joia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu. A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro, mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte. Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu, a ferida que ele sofreu é invisível, mas dificilmente curável.